quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A Arte urbana sob as lentes da sétima arte


Pouco mais de uma hora basta para que muros, fachadas e tampas de bueiros sejam cobertos por tintas e sprays. Espalhadas pelas ruas cariocas, as pinturas da tendência artística conhecida por arte urbana, quase sempre, fazem críticas, revelam fantasias e compartilham ideias particulares. É exatamente este universo contagiante e intrigante que o curta-metragem “Intervenha Aqui”, dirigido e roteirizado por Sidney Dore, aluno de Cinema da PUC-Rio, aborda. Em 15 minutos de planos recheados de cores e movimento, o documentário busca “o fator que impulsiona a interferência visual do nosso espaço urbano”, em outras palavras, o que move a galera que vem transformando o cenário visual carioca.
Com uma equipe de produção de pouco mais de dez pessoas – entre produtores e seguranças - e cerca de duas semanas de filmagens de planos e entrevistas, o projeto do curta nasceu a partir do olhar observador de Sidney pelos próprios trajetos cotidianos.
Sidney é o responsável pela criação do "Intervenha Aqui"
(Foto: Fe Dore)

- O insight rolou quando, em um dia normal, estava chegando à PUC e vi um estêncil emoldurado com a frase “intervenha aqui dentro”.  As artes urbanas sempre me chamaram a atenção e, a partir disso comecei a desenvolver a concepção de linguagem e estética do filme – afirmou.
Daí em diante, o cineasta se encarregou dos contatos com os mais variados artistas urbanos – ou intervencionistas – conhecidos no meio das artes, de modo a convidá-los a participarem do filme. Entre os nomes selecionados, se encontra o da artista plástica Joana César, a autora dos indecifráveis escritos espalhados pelos muros do Humaitá, Jardim Botânico e Gávea. As letras de ângulos retos e poucas curvas foram criadas durante sua adolescência, após ter tido o diário invadido pelo irmão mais velho.
No filme, Joana afirma que apesar de as galerias de arte ainda serem pontos fortes para exposições, nada pode ser comparado à dimensão de público que a arte urbana pode atingir. E reforça, a resposta das pessoas é muito mais rápida e dinâmica que em salões.



- As pessoas vão lá para ver o que o cara fez há um tempo. Na rua a coisa é rápida, acontece tudo ao mesmo tempo. Quando eu comecei a pintar, as pessoas já estão olhando, aprovando ou reprovando – disse.

A artista plástica Joana César: "Antes pintava tela.
Hoje eu pinto viaduto" (Foto: Reprodução)

Outro nome presente no curta é o do skatista e grafiteiro profissional Kajaman, que, em sua entrevista para o filme, afirma não enxergar o mundo com olhos acostumados. Segundo ele, isso é o que o motiva a querer sempre transformar o espaço onde vive.
- Nunca vi uma escada como uma escada, um corrimão como um corrimão ou uma ladeira como uma ladeira. Em cada rua que eu passo penso que ali poderia haver uma arte minha ou de outra pessoa – diz o grafiteiro.
Com uma linguagem simples e dinâmica, o curta-metragem não conta a história da “street art”. No entanto, permite que cada artista exponha sua visão e explique sobre seu próprio trabalho, o que acaba, por fim, apresentando ao espectador um panorama sobre a tendência artística sob o olhar de quem a pratica. Mas Sidney afirma ter aprendido que, por mais que o filme exponha essas “explicações”, as obras não se sustentam com apenas um significado.
Kajaman fazendo uma de suas intervenções (Foto: Reprodução)
- Eu acho que por ser uma arte mais livre, não existe um real significado, cada um interpreta da maneira que bem entender. Essa é a graça da arte urbana. Não tem definição. Elas são singulares e particulares de acordo coma técnica utilizada. Acho que saber diferenciar as técnicas e ver a gama de possibilidade de misturá-las é que apurou meu olhar sobre essas artes – afirmou o futuro cineasta graduado.
Com o filme pronto, o diretor e roteirista agora se dedica à estreia da obra, ainda sem data prevista. Apesar de não ter sido lançado oficialmente, o “Intervenha Aqui” já foi exibido em alguns festivais nacionais e internacionais, como o Festival Latino Americano, em São Paulo, e o Festival de Escuelas de Cine, em Montevidéu, no Uruguai. Agora, o curta aguarda a possibilidade de ser transmitido no Curta Brasília, no Festival Cine Favela e alguns outros festivais internacionais.
Por conta das exibições no Brasil e mundo afora, Sidney agora se dedica à produção das legendas para o filme e de sua divulgação. Sobre a disponibilização na internet, o cineasta é categórico: ainda não está na hora.
- Estou na correria de terminar as legendas pra mandar para festivais internacionais e, enquanto isso vou inscrevendo o filme em diversas mostras e festivais Brasil afora. A expectativa é divulgar ao máximo e, quando esgotar o tempo de vida dele em festivais, vamos disponibilizar gratuitamente na internet – explicou.

Paineis enfeitam o cenário carioca com pinturas irreverentes e coloridas (Foto: Reprodução)
Além de tudo isso, o jovem ainda planeja alçar voos mais altos com o que idealizou. A vontade de levar o conhecimento sobre as intervenções à população é tão grande e motivadora em si, que o universitário já começou a esboçar as primeiras linhas de um projeto para televisão sobre o tema.
- Minha ideia é fazer uma série sobre o assunto, abrindo-o um pouco mais à opinião pública e à teórica, de antropólogos e sociólogos. O enfoque é o mesmo, mas o objetivo é dar voz a outras pessoas envolvidas nesse cenário, e não só os artistas em si.
Enquanto o filme não chega para o grande público, o jeito é observar esse grande divã de artistas inovadores que se tornou o espaço urbano, e tentar refletir sobre os questionamentos que cada obra carrega consigo. E, é claro, manter-se aberto as sensações que este estilo artístico suscita em cada um que se propõe a enxergá-lo com outros olhos.

  • Assista ao trailer do filme:


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Afinal, o que é Instalação Artística?

Obras criadas para despertarem inquietação em quem caminha pelas cidades, e que espelham um momento exato da sociedade. Expostas em espaço público para provocar o espectador a construir um olhar mais crítico, a Instalação Artística modificou por completo todo o panorama das artes do fim do século XX e início do XXI.

Entre as características principais da Instalação está a desconstrução de espaços, conceitos e ideias. Este estilo artístico surgiu em meio ao contexto da Arte Conceitual, ou seja, as instalações não permitem a criação de um conceito único, mas ganham significados a partir de sua essência e do que ela desperta em quem a vê. No Brasil, artistas como Artur Barrio, Henrique de Oliveira, Lygia Clark e Helio Oiticica são referências no assunto.

O tempo é um questão de extrema importância para se entender o objetivo das instalações. Influenciada por alguns ideais da Semana de Arte Moderna de 1922, esta vertente da Arte Contemporânea faz uso do termo “não tempo” para se concretizar enquanto arte. De uma forma mais simples, o fato de ela não existir eternamente – somente por fotografias e na lembrança das pessoas – é o que a transforma em arte, já que ela espelha o momento daquela sociedade.

A primeira Instalação Artística foi feita em 1923, pelo artista plástico e poeta Kurt Schwitters, e é conhecida pelo nome “Merz Bau” – em português Casa Merz*. O também pintor e escultor alemão decorou, de forma nada convencional, o apartamento onde morava. Malas com roupas presas na parede e a combinação de madeiras de diferentes tamanhos faziam parte da ornamentação do local. A obra foi destruída durante um ataque aéreo, vinte anos depois.
Hoje em dia, as instalações são muito mais multimídias e interativas. Isso ocorre justamente porque, como já disse antes, este tipo de arte reflete um momento da sociedade. Como o mundo atual é caracterizado pelas novas mídias e técnicas variadas de comunicação, a arte das instalações, também se adaptou a este formato. Em palavras gerais, essa vertente artística é tão mutável quanto o mundo, e só faz sentido quando vista e analisada em seu devido tempo e espaço.

*A palavra Merz é derivada da palavra alemã Kommertz, que significa comércio em Alemão.  Schwitters atribuía à palavra que criara o sentido de “obra de arte total”, usando o nome em outros inúmeros trabalhos feitos ao longo da vida.

** Na 29º Bienal de São Paulo, o artista criou uma estrutura de dois andares, chamada “A Origem do Mundo”, por onde as pessoas caminhavam por dentro do que ele chamava de “organismo”.